terça-feira, 29 de março de 2011

HTPC -22/03/2011 O que a escola precisa mudar para ser compulsória?


Responder a essa pergunta supõe, como mínimo, refletir sobre o lugar sociocultural da escola “ontem” e “hoje”. A pergunta em si mesma já expressa essa hipótese porque sugere que a escola de ontem não era compulsória e que a de hoje quer sê-lo. Por que a escola de ontem não era? Por que a de hoje deve ser? Consideremos que, em certo sentido, a escola sempre foi compulsória. Foi nela que sempre se depositou a esperança e a confiança no desenvolvimento e na aprendizagem dos alunos daquilo que é compulsório para todos nós, não só na escola, mas na vida em geral. Amar ao próximo como a si mesmo, ser digno, comprometido, responsável e tantos outros valores são “compulsórios” a uma certa visão de ser humano. Sem eles, predominariam a barbárie e a violência. Classificar, selecionar, ordenar, fazer inferências, observar, comparar, quantificar, concluir, fazer escolhas, tomar decisões, antecipar, corrigir e tantas outras “ferramentas” cognitivas são habilidades consideradas compulsórias ao ser humano. Sem elas, nossa sobrevivência, nosso passado, presente ou futuro ficariam extremamente prejudicados e sujeitos a toda sorte de manipulações. Trabalhar em grupo, cooperar, argumentar, compartilhar tarefas, construir coisas, divertir- se, criar, desfrutar a vida e tantas outras realizações sociais são compulsórias ao ser humano. Sem elas, a vida restaria sem sentido. Os domínios lembrados entre tantos outros não são privilégio da escola, tanto assim que culturas “não-escolares” os desenvolvem, inclusive de modo bastante complexo. O fato é que, em nossa sociedade, atribuiu-se à escola um lugar fundamental para o desenvolvimento dessas aquisições, sobretudo em crianças e adolescentes. Em resumo, se há coisas compulsórias é porque são melhores para o ser humano e, se a escola compromete-se com seu desenvolvimento, ela também se torna compulsória, ao menos quanto aos conteúdos que pretende ensinar. O problema da escola compulsória de “ontem” é que era destinada para poucos alunos. Ela se restringia àqueles que tinham condições (financeiras, cognitivas, sociais, culturais, afetivas, biológicas, religiosas) de ingressar ou permanecer nela, porque atendiam aos seus pré-requisitos ou pressupostos. Os outros, a grande maioria, não ingressavam ou não ficavam mais do que alguns anos, o que só confirmava sua falta de condições para desenvolver na escola os conteúdos acima mencionados. Em outras palavras, a escola sempre foi compulsória, porque está comprometida em desenvolver bem o que é compulsório a uma vida digna e plena, mas antes ela só se permitia fazer isso com os poucos alunos que tinham condições para atender aos seus critérios. A ES cola de “hoje” reconheceu e aceitou o desafio de ensinar o compulsório da vida para todas as crianças e adolescentes. O que ela precisa mudar para ser compulsória nesse segundo sentido, ou seja, ser capaz de ensinar a todas as crianças? Para responder a essa pergunta, penso que são importantes duas considerações. Primeiro, a escola de “hoje” deve mudar a visão que a de “ontem” construiu sobre si mesma. Segundo, a escola de “hoje” não pode esquecer em sua crítica aquilo que continua valioso, apesar dos imensos desafios de sua consideração na atualidade. De um lado, a escola, como qualquer instituição social,expressa os valores, as possibilidades e os interesses das pessoas de seu tempo. Sobretudo, daquelas que têm poder político e econômico, que têm condições – “herdadas” ou “conquistadas” – para determinar o que julgam “melhor” para si mesmas e para os representantes de sua classe. Nesses termos, talvez caibam duas perguntas: a quem a escola de ontem servia? A quem serve a escola de hoje? De outro lado, como comentei no início, a escola aceitou ser – e de fato é – depositária daquilo que é fundamental ou compulsório a qualquer ser humano, mesmo que suas formas de expressão variem no espaço e no tempo. A quem serve a escola? Para responder a essa pergunta, proponho que lembremos, ainda que superficialmente, três modos de ser de nossa sociedade nos últimos séculos. O primeiro deles é o da sociedade produtora, isto é, comprometida com a fabricação de bens duráveis, resistentes. Sólidos também são seus valores, seus compromissos e suas relações de trabalho. É a sociedade que preza o emprego e o casamento para toda a vida, que valoriza a família com muitos filhos, os quais estendem e aprofundam a herança e os valores de seus pais. Não importa que o trabalho vire rotina, que produzir seja mais um reproduzir, um fazer sempre igual, que o casamento não faça sentido e que se sustente por interesses externos ou pelo medo de mudança. Qual é a melhor escola para essa sociedade? Quem são os melhores alunos para ela? Quais conteúdos escolares ela deve privilegiar? Em sua lista, que competências e habilidades são requeridas de seus alunos? Um segundo tipo de sociedade é a que valoriza o ter, o possuir recursos materiais a serem acumulados. É a sociedade que preza o capital, que divide as pessoas por suas posses, por seus bens materiais, por sua fortuna. Qual é a melhor escola para essa sociedade? Como ela prepara crianças e adolescentes para serem bem-sucedidos neste sistema? E as crianças que não têm condições materiais para freqüentá-la, porque devem trabalhar, porque seus pais não podem ter nem têm livros em casa? Um terceiro tipo de sociedade é a que valoriza o consumir, o desfrutar mais e mais os bens produzidos e sempre aperfeiçoados ou diversificados. É a sociedade que valoriza o instante, o substituível, o breve no tempo e o próximo no espaço, já que os recursos tecnológicos cada vez mais possibilitam isso. É a sociedade global, tecnológica, plena de invenções e descobertas. Possuidora de recursos que facilitam nossa vida, que “sustentam” a juventude de nosso corpo, que estendem nosso bem estar e que nos provêem facilidades e possibilidades de consumo de todos os tipos. Uma sociedade que julga ter superado o pesado, o difícil, o que precisa ser consertado e apreendido de modo lento e dedicado. Qual é a melhor escola para essa sociedade? Como ela deve preparar seus alunos? Quais competências e habilidades eles devem dominar para serem bem-sucedidos? Produzir, ter e consumir representam ações e valores que talvez resumam nossos principais esforços e êxitos dos últimos tempos. Não importa que cada vez mais menos pessoas tenham possibilidades para isso, que suas reais condições de fazer parte dessa classe sejam precárias, incertas e difíceis. Não importa os tipos de ansiedade, de sofrimento, de exclusão e de desigualdade social implicadas em nossos esforços para produzir, ter e consumir. O interessante é que essa mesma sociedade aprove leis e determine recursos a serem gastos em uma escola.

LINO DE MACEDO


1- Leitura:

O que a escola precisa mudar para ser compulsória?

Reflexão:

- Que tipo de escola e sociedade queremos para os nossos alunos?

- O que esperamos?

- Quais as competências e habilidades eles devem dominar para serem bem sucedidos?


2- Divisão por áreas para montagem do Informativo Escolar de divulgação do trabalho realizado.

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