Documentário: Lixo Extraordinário
O documentário
concorreu ao Oscar em 2011 e mostra um projeto do artista plástico Vik
Muniz no maior aterro sanitário do mundo, Gramacho, no Rio de Janeiro. O
filme conta como foi a experiência do artista Vik Muniz ao fazer arte com lixo
e transformar a vida de um grupo de catadores.
O
filme mostra a vida difícil de pessoas que vivem literalmente no lixo e que
dependem dele para a sobrevivência. O artista, que nasceu na classe média baixa
paulistana e hoje é um dos maiores expoentes das artes visuais no mundo,
trabalha com colagens e montagens de materiais diversos para formar retratos.
Na
proposta Lixo Extraordinário (em inglês Wastalend), Vik resolveu chamar a
atenção simultaneamente para o problemas ambiental do lixo e social das
condições de trabalho dos catadores de Gramacho. Como forma de dar voz e
visibilidade aos trabalhadores do lixo, retratou-os como personagens com
montagens gigantes feitas de resíduos do próprio aterro. Os resultados são
incríveis!
Há
retratos fortemente simbólicos, como de um líder da comunidade semeando no
aterro, e de outro encenando a morte do pensador Marat, e uma catadora posando
com seus filhos num quadro que lembra uma santa.Parabéns Vik.
Recentemente
eu assisti ao filme, que em mim causou um misto de indignação, vergonha,
tristeza e admiração. São sentimentos aparentemente contraditórios, mas você
vai entender.
A
admiração vem da força que têm as pessoas que são forçadas a viver entre o lixo
para sobreviver. Forçadas, isso mesmo. Por falta de condições centenas de
pessoas são forçadas a viver no lixo para retirar dele alguma renda. Ninguém em
sã consciência escolhe uma vida daquelas. São homens e mulheres que têm forjado
no seu íntimo um instinto de sobrevivência muito forte e digno de admiração.
Todos os dias aquelas pessoas enfrentam dificuldades para manter a sua
dignidade. Repare nos depoimentos que as pessoas preferem aquela vida a se
entregar ao tráfico de drogas, ao crime e à prostituição.
A
tristeza é um sentimento que aperta o peito de qualquer pessoa normal e com o
mínimo de caridade. É muito triste ver homens e mulheres de bem revolvendo lixo
como animais, se alimentando em meio ao lixo, ao mau cheiro e a urubus. Isso é
muito triste, afinal são seres humanos, pessoas que não tiveram a mesma sorte
que muitos de nós.
No
filme um dos catadores faz uma brincadeira que reflete muito bem o que estou
dizendo e que expõe uma realidade triste e cruel. Quando ele vê a equipe de
filmagem ele grita: “Filma nois aqui para o mundo animal”. A desigualdade
social é uma das piores formas de degradação moral, social e humana.
Por
fim a vergonha. Vergonha de ser brasileiro. Vergonha do Rio de Janeiro.
Vergonha de saber que a cidade que trata daquela forma seus cidadãos é chamada
de Cidade Maravilhosa. Vergonha de saber que o mundo inteiro assistiu o filme e
pôde comprovar como tratamos aqui no Brasil os pobres. Vergonha de saber que o
país está gastando uma fortuna de dinheiro nos preparativos da Copa e das
Olimpíadas e não gasta um centavo para mudar a vida sofrida dos moradores de
Gramacho. No filme o gerente do aterro deixa escapar, na maior naturalidade, o
maior exemplo de inversão de valores do papel do Estado que eu já ouvi.
Confiram o diálogo entre o gerente e Vik Muniz:
“G – Os catadores tiram 200
toneladas de reciclado por dia.
VM – Por dia?
G – É representativo a uma cidade de 400 mil habitantes.
VM – Caramba !! É mesmo?
G – Aí você vê a importância do catador hoje pra Gramacho é muita. Ele tá aumentando a vida útil”.
VM – Por dia?
G – É representativo a uma cidade de 400 mil habitantes.
VM – Caramba !! É mesmo?
G – Aí você vê a importância do catador hoje pra Gramacho é muita. Ele tá aumentando a vida útil”.
A
autoridade conta com os catadores para aumentar a vida útil do aterro
sanitário. Ou seja o Estado reconhece, oficializa (pois todos os catadores são
identificados com coletes numerados), convive e se apóia na miséria humana dos
catadores para aumentar a vida útil do seu aterro sanitário. Isso é o fundo do
poço!!!!!!!!!
Gente,
o Estado existe para garantir às pessoas uma vida digna e em Gramacho o Estado
é conivente com um batalhão de pessoas se debatendo no lixo, acabando com sua
saúde em uma realidade terrível e degradante. Isso me causou muita vergonha.
Será que o Estado ou as prefeituras não são capazes de retirar aquelas pessoas
do lixo? Será que não tem dinheiro para isso?
O
lixo é sim uma fonte de renda para muitas famílias mas o Estado pode e deve dar
condições para essas pessoas trabalharem com dignidade, em segurança. Onde
estão as políticas públicas de coleta seletiva onde o material reciclado já é
separado e destinado às cooperativas de catadores? Onde estão os galpões de
separação com esteiras e máquinas onde os catadores tem condições de separar o
material reciclado? Enfim, são muitas as formas de aumentar a vida útil de um
aterro, mas fazer isso sugando a vida de pessoas é uma vergonha.
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